Este é primeiro e-mail automático de uma série de e-mails automáticos que você vai receber até que eu desista de escrevê-los ou que você peça para não receber mais. E é totalmente possível que uma dessas duas coisas aconteça. A primeira, porque eu tenho pouquíssima coisa para compartilhar. A segunda, pelo mesmo motivo. A questão toda é que não sou uma pessoa vivida. Questão mesmo, porque constantemente levo o assunto pra terapia. Inclusive, recomendo!
“E quem disse que tu não é vivida?”
EU QUE TÔ DIZENDO!!!!
Mentira. Comparação, né? A forma menos saudável e mais convincente de se autoanalisar.
Faz tempo que a gente não precisa que as pessoas nos digam alguma coisa para tirar uma conclusão. Assim como não nos dizem a definição de beleza ou sucesso, mas se você tem Instagram, provavelmente temos a mesma visão sobre esses conceitos, ou pelo menos concordamos que há um senso comum quando se trata deles.
Como usuária da rede social há 10 anos, tenho muito bem formada a minha ideia de uma ~pessoa vivida (100% baseada na minha observação das pessoas que conheço e das que não conheço, mas sigo ou fuço no Instagram, ou seja, provas SÓLIDAS).
O primeiro ponto, e também o mais óbvio: não estamos falando de idade. claro que uma pessoa 60+ tem uma bagagem de vida maior que a de qualquer pessoa que está lendo esse texto (um total de 6), mas não é sobre quantidade de tempo, e sim de experiências.
A pessoa vivida de vinte e poucos anos é aquela que coloca na bio do insta uma sequência de emojis com as bandeiras dos 12 países que já visitou. É mais vivida ainda se estiver morando em um deles. Também é a que passou por empregos diversos, totalmente diferentes entre si, ou que estudou alguns períodos de pelo menos três graduações até encontrar, com a maturidade adquirida, a área que engloba todos os seus objetivos. Que bonita é a jornada do autoconhecimento.
O tal do vivido pode ainda ter recebido o título porque passou por uma situação difícil, então as circunstâncias o fizeram desenrolado por excelência. Assunto sério. Separação dos pais, morte precoce de um deles, ter de trabalhar desde cedo para ajudar financeiramente em casa, ter de sair da casa dos pais para estudar em outra cidade.
Como já está explícito desde o título da newsletter, eu não me enquadro no grupo em questão.
Tenho 24 anos, sou filha única e moro desde os 2 anos na mesma casa com os mesmos pais que vivem harmoniosamente. Nunca fraturei um osso, nem levei pontos no supercílio. Nunca viajei de avião. De carro e ônibus, muito pouco.
Desde a quinta série eu já sabia o curso que faria na faculdade, jornalismo. Não passei na universidade pública, tudo bem, meus pais tiveram condições de pagar uma particular. Aos 21, me formei jornalista sem ter enfrentado ondas de dúvidas quanto a profissão escolhida na adolescência. Nem uma crise de identidade sequer.
Ah, sobre a minha adolescência: sem grandes emoções por aqui também. Nem um pingo de álcool na boca durante todo o ensino médio. O limite para sair das festas de 15 anos era meia-noite. Aliás, meia-noite era para estar em casa. Teve, sim, o primeiro beijo. Aos 15, como eu torcia para ser e enfim poder cantar a música de Taylor Swift com propriedade. Foi, inclusive, com o primeiro namorado, que durou até os meus 18.
Em resumo, tirando o beijo de língua, as grandes novidades da minha vida nessa fase foram os segundos furos nas orelhas e o início do uso de ansiolíticos. Sendo ambos portas de entrada para vícios mais caros que sustento até hoje. Bom, acho que já deu pra entender. Sem grandes emoções mesmo.
E como pessoa não-vivida das mais conscientes, eu travo diante das oportunidades de expor o meu ponto de vista sobre qualquer coisa, principalmente as mais triviais. É que o ordinário da pessoa vivida é tão mais fascinante!
A pessoa vivida sempre tem na manga uma história inusitada da época em que trabalhava numa gráfica e sozinha conseguiu comprar o primeiro videogame, ou de quando foi perseguida por maribondos no sítio do avô e teve que se jogar no riacho, mas mesmo assim não saiu ilesa e a marca da picada na testa é visível até hoje, infalível na hora de puxar assunto num date e provar a habilidade de contar causos aleatórios. Ah, fulano é uma figura, deveria fazer um canal no Youtube!
Noooossa, grande coisa
Como toda newsletter de pessoa pouco vivida (e até algumas muito vividas fazem isso), vou finalizar com uma sessão de indicação.
Deve ser algum álbum, livro ou filme dos mais genéricos, sempre contando com a grande chance de você já ter ouvido/lido/assistido, mas vou falar mesmo assim, porque esse é o objetivo da coisa toda.
Eu já sei (e você já percebeu) que não vai ter nada de novo aqui, nenhuma lição pra vida. Só minhas conclusões óbvias e uns recortes das minhas memórias comuns. E decidi fazer mesmo assim.
Encare seu novo projeto como um experimento despretensioso e as chances de frustração no pior cenário serão menores. Recomendo!
E como pessoa medíocre exemplar, sempre indicarei filmes que estão nas plataformas de streaming mais populares, porque (surpreendendo ninguém) não sei baixar filmes. Nem no 4shared eu mexia, o que explica o meu gosto musical totalmente básico, já que só ouvia o que minhas amigas baixavam e me passavam pelo bluetooth do celular. Também não tive tumblr, nem fotolog. O que também explica essa exposição toda da minha vida na internet um tanto tardia. Assim como outras coisas que só vivi depois da maioria das pessoas no meu círculo de convivência explicam outras muitas coisas.
Desse pouco que vivi, lembro muito, e pro que ainda quero viver, já depositei todas as expectativas possíveis. Vou contando do processo aqui. Que sirva de entretenimento pras amigas, pelo menos.
Falando em entretenimento, a indicação:
O filme “Meu ano em Nova York” tá na Netflix e é baseado no livro de mesmo nome, mas eu só soube disso agora quando estava pesquisando fotos. A história não é surpreendente e muitas vezes isso é tudo que a gente precisa.
É levinho, mas te envolve bem. Mesmo que eu tenha dormido faltando uns 20 minutos pra acabar e isso raramente aconteça, acredito que não tenha sido porque o filme ficou desinteressante, é só que ele é confortável. Terminei no dia seguinte sentindo que é bem possível que eu assista de novo, pra me distrair ou pra esperar o sono. Ah, ele também passa uma sensação familiar. Fiquei me perguntando o porquê. Realmente não sei. Ainda estou pensando nisso.
E acabou, gente. Escrevi “gente” e sinto como se estivesse falando sozinha. Espero que continue assim! Até semana que vem!
Emolia
Adorei o texto.
E se vale de consolo, tenho quase 30 anos e meio e também não sei baixar filmes. 🙃
Com todo o meu respeito aos mais velhos, do que importa muita idade e pouco ter vivido? Aos mais novos, do que importa a pouca idade e ter vivido bastante? E mais: o que é "muito" e "pouco" nessa equação. Cada um é dono da sua estrada. Siga trilhando a sua que até onde pude conhecer é belissima. ❤ Obs: já quero o @ desse perfil!