Quem convive comigo mais de perto sabe da minha obsessão não muito saudável pelos 30 anos. Eu tenho certeza de que vai ser o começo da melhor fase da minha vida, uma certeza 100% influenciada pelo filme De Repente 30 que eu peguei inúmeras vezes na locadora.
Locadora. Já pensou como toda geração pega o finzinho da vida de alguma coisa? A minha viu o fim da fita cassete, do Sítio do Pica-Pau Amarelo todo dia na TV aberta, do disquete, das locadoras de DVD, do celular com infravermelho.
Os trinta anos me parecem o equilíbrio perfeito entre a disposição da juventude e o poder aquisitivo da vida adulta. Independente de como esse balanço se concretizaria na vida de uma pessoa, a ideia sempre foi de solidez, satisfação pessoal, certezas.
Mês que vem faço 25, relativamente perto dos 30. Nos 20 e poucos cultivei amigos com 30+, e ter amigos 30+ desfez, graças a Deus, a minha ilusão. A diversidade das suas realidades (coisa tão óbvia, eu sei) me pôs no chão e, por incrível que pareça, me tranquilizou.
A cinco anos dos 30, não sei como solidificaria certezas, acharia um trabalho que me traga satisfação, ou só me permita ter renda suficiente para sair da casa dos meus pais em tão pouco tempo. Seguindo a minha fantasia Jennifer Garner dos 30 anos, eu precisaria de uma intervenção JK na minha vida, 50 anos em 5.
Comecei a pensar que os 30 seriam, então, uma extensão dos 20. Ao que parece, é possível - uau - tomar novos rumos, mudar de ideia, de paixões, de profissão, de propósito, etc, mesmo depois de três décadas vividas. Bem depois, até.
Ano passado eu vi um tio, aos 50 anos, se encontrar profissionalmente, se sentir útil em um emprego depois de décadas. Vejo amigas de 35 começando uma nova faculdade. Vejo e me sinto boba porque nada disso é revolucionário, mas a gente vê como se fosse. Como se os 30 anos fossem uma sentença.
Li em uma reportagem essa semana que o córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pela expressão da nossa personalidade e outras coisas, só chega a sua plena maturidade aos 25 anos. É só a partir daí que as nossas certezas vão sendo firmadas e a gente passa a se identificar com elas a ponto de não abrir mão de nos afirmar pro mundo, mesmo quando sua ordem aponta para outro caminho.
A gente atribui uma coragem fora do normal a quem só está vivendo o seu processo natural. Mas o pior é que, com o que nos é imposto, precisa mesmo uma dose de coragem pra não corresponder ao modelo escolhido como ideal.]
Escolhido inicialmente pelo capitalismo, mas abraçado pela tia que insiste em te enviar edital de concurso público, no primo que é exemplo de sucesso porque escolheu trabalhar com tecnologia e está ganhando em dólar, na avó que pergunta se vai demorar muito para engravidar, se vai ficar só no primeiro filho, se não é melhor comprar um apartamento, viver de aluguel é arriscado, você precisa ter patrimônio, minha filha. Respondo sorrindo e concordando com a cabeça, porque na verdade ainda nem sei do que preciso.
Coming of age
É como estão chamando os filmes que retratam o amadurecimento em fases cruciais e cheias de dilemas e expectativas. Filmes sobre fim da adolescência/saída do colégio nunca saem de moda, mas tem também os que focam na chegada dos 30. As comparações que nos engolem, a corrida pelo sucesso, o fantasma do fracasso.
Além de alguns filmes, listei também músicas e livros que me fazem pensar sobre isso, seja amenizando ou amplificando as noias, mas isso aí depende do dia e da fase que estou.
De Volta aos Quinze (série | Netflix): Estrelando a maior de todas, Maisa Silva, a premissa é muito parecida com a de De repente 30, mas a viagem no tempo é oposta, a adulta de 30 anos é que volta a ser uma adolescente de 15. Destaque para a trilha sonora perfeita com muito Charlie Brown Jr, Pitty, Los Hermanos (kkkk) e Sandy e Junior.
Tick, Tick… Boom! (filme | Netflix): Um compositor chegando aos 30 anos lidando com as bolas na trave, frustrações, a ideia do fracasso e de que os 30 são o seu prazo para “dar certo”. É um musical, tem o homem-aranha Andrew Garfield e a High School Musical Vanessa Hudgens.
A Pior Pessoa do Mundo (filme | tem pra baixar): Pra mostrar que eu não indico só farofa, esse eu vi no Cinema da Fundação, é norueguês e daqueles que são divididos em capítulos, tem até prólogo e epílogo. A protagonista está nos seus 20 e tantos anos e não sabe o que quer em relação a carreira, relacionamento romântico, maternidade. As coisas vão acontecendo, ela vai vivendo e o filme é isso. Sei lá, em mim bateu.
Não Aguento Mais Não Aguentar Mais (livro): Sobre burnout e as frustrações na área profissional da geração que hoje está nos 30 e não vive o que foi prometido para esse momento. Tá todo mundo sentindo que fracassou. Foi bom pra eu não me sentir um fracasso sozinha.
A Rosa Mais Vermelha Desabrocha (HQ): O amor nos tempos do capitalismo tardio ou por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje em dia. Sua psicóloga vai amar.
atrás/além - O Terno (álbum): Tim Bernardes, além de saber o que eu sinto quando tô na fossa, também sabe exatamente os meus dilemas nesse momento de me reconhecer adulta e um tanto impostora. Não porque eu sou especial pra ele, mas porque tá todo mundo se sentindo assim, até Tim Bernardes. atrás/além aborda essas questões em Tudo Que Eu Não Fiz, Pegando Leve, Eu Vou, Atrás/Além, Nada/Tudo, Profundo/Superficial, E No Final.
Acabou mais uma! Obrigada a todos os amigos e amigas com 30+ e 30- que acolhem minhas noias.
Me identifiquei na amiga 30+ que tá começando de novo. E adorei aprender sobre o córtex pré-frontal. Aguardo novos conhecimentos no próximo post. 😌