O óbvio tem que ser dito, a gente precisa ser lembrado do que já sabe. Disso, você já deve saber. Particularmente eu amo gastar os assuntos que já me são familiares. Sou capaz de passar meses sem sentir a necessidade de uma novidade, sou completamente obcecada pelas coisas que já sei. Limito minhas descobertas às diferentes perspectivas sobre o mesmo tópico. Traço as divergências, os pontos em comum, em especial amo quando as coincidências vêm dos lugares mais inesperados.
Estes dias me peguei fascinada com a semelhança de um momento de vida muito específico vivido pela escritora Joan Didion e também por Carrie Bradshaw em And Just Like That. Quais as chances de acompanhar simultaneamente, lendo o relato de uma e assistindo a série da outra, o mesmo fenômeno na vida de duas mulheres tão diferentes? Comecei a comparar suas reações, encontrar seus pontos em comum, que curioso que as duas estivessem morando em Nova York com os seus maridos e que as duas fossem escritoras, mesmo que completamente diferentes, mas agora com uma marca tão específica em comum. Como seria se se encontrassem, como se compreenderiam se se abraçassem, o que uma teria a dizer para a outra. Uma delas está morta e a outra é uma personagem de série de TV, mas esses pensamentos ocuparam a minha mente por dias. Como experiências em comum unem dois mundos tão distintos? Como não se empolgar com certos acasos?
Este ano estou obcecada por mulheres falando o óbvio. Ouço atentamente toda variação de discurso sobre síndrome da impostora, não hesito ao dar play em mais um podcast sobre comparação, assisto até o final os vídeos no TikTok que no começo me dizem para não sentir culpa por tudo que ainda não conquistei. Elas sabem que me culpo, que me comparo, que desejo mais do que tudo parar de me sentir uma impostora, elas sentem o mesmo, elas falam para mim e também para si mesmas e eu imploro por favor me digam de novo e de novo eu preciso ouvir aquilo que já sei.
Não bastasse a literal descrição do tema de cada episódio nas religiosas cenas de Carrie teclando em seu laptop, os roteiristas de Sex And The City faziam questão de entregar um leque de perspectivas sobre o assunto a partir das quatro amigas que, coincidentemente, estariam lidando com o mesmo dilema, cada uma à sua maneira, dentro das suas circunstâncias. E talvez por isso eu tenha terminado tão rápido essa série de 20 anos atrás, que em suas seis temporadas explora até a última gota todas as questões possíveis que envolvem relacionamentos amorosos ou somente sexo, mas que no final não deixa dúvidas de que é sobre manter por perto as suas de fé enquanto se vive em looping tudo que Greta Gerwig conseguiu condensar naquele monólogo do filme Barbie.
mais mulheres falando o óbvio
para quando você precisar escutar o que já sabe sobre:
Autossabotagem
Comparação
Limites
Os altos e baixos da vida
para receber uma situada, um sacode, pra tomar uma vergonha na cara:
para escutar se possível todo dia de manhã:
Eu termino esta edição com um agradecimento às minhas amigas Giulia e Nayara que insistiram pra que eu começasse a ver Sex And The City. E à presença digital de Jacira Doce, Bela Reis e Lela Brandão. E Greta Gerwig, pelo filme que contempla todas as minhas atuais obsessões.
Obrigado por essas indicações
Texto massa! Adoro coisas que me fazem pensar.