Não deve ter causado surpresa que eu tenha ignorado o compromisso de escrever e enviar essa newsletter, uma vez que ela se chama Adulta Impostora. Não foi de propósito, mas eu também já esperava. Volto a enviar hoje, como quem não quer nada.
Usa-se essa expressão como-quem-não-quer-nada para ações despretensiosas, e penso que, nos últimos tempos, como não sei bem o que quero em relação a muitas coisas, estou em constante estado de como-quem-não-quer-nada.
Acordo como quem não quer nada, assisto TV como quem não quer nada, trabalho como quem não quer nada, olho vagas no Linkedin, pesquiso cursos e assisto tutoriais como quem não quer nada, mas bem que gostaria de querer alguma coisa.
Talvez eu esteja no meu auge da despretensão, mas ainda um pouco incomodada porque quase tudo em volta diz que é o momento de fazer o oposto. Sonhar alto, traçar metas, trabalhar duro, não se acomodar no processo. Mas bem aí, no meio do caminho (tá mais pro começo, na verdade), eu dei uma acomodada. Nem falo isso com tristeza, porque foi intencional, era pra ser uma pausa. Ai, mas tá tão bom, tão confortável. Desconfio de quem foge a todo custo da zona de conforto, ela é gostosa demais.
“Não tenho paciência pra quem tá começando”
Dificilmente primeiras tentativas são boas. Não é à toa que uma das justificativas mais plausíveis e aceitas é “mas também, foi a primeira vez que fiz”. Pode ser o Enem, um música ou uma sutura em pele sintética. Pode também dar certo de primeira, como o álbum estouradíssimo de Marina Sena, que ironicamente se chama “De Primeira”.
“Até o amor ser bom ele é tão ruim” LETRUX, 2017.
Se algo tão abstrato e sem manual como um sentimento melhora com a prática, imagina uma atividade? Pedalar, dançar, escrever. É óbvio que só estou falando disso aqui porque sou a pessoa que mais precisa aceitar a ideia. Chega a dar raiva como o crivo dos outros me afeta e me trava. Na verdade, o crivo que eu imagino que elas tenham quando veem qualquer coisa que eu faço, de um story a uma reportagem, mas normalmente são as coisas pequenas que pegam mais, e também as que eu não estou acostumada a fazer. Essa newsletter aqui, por exemplo. Nas últimas semanas não conseguia nem abrir o rascunho desse texto por causa de um comentário/indireta que vi e nem sei se foi pra mim. 😀 Tudo normal por aqui!!!! 😀😀
Deixa os textos serem ruins, a parede pintada meio feia, o poema que saiu mais cafona do que é aceitável até para um poema. Deixa as pessoa!!!!
Dá pra vencer calada? Dá. E é massa quando alguém só divulga depois o que já foi repensado e refeito cem vezes nos bastidores, mas também tem quem goste de divulgar as tentativas, apesar do risco de parecer ridículo, mas a questão é que não deveria parecer!! Talvez a conclusão do ridículo só surja por causa dessa nossa expectativa da alta qualidade até nas coisas mais despretensiosas.
O que eu costumo escolher é o de mostrar as tentativas, também conhecido como passar vergonha de graça, e isso vem desde novinha, de forma natural. Sabendo que provavelmente não vou alcançar uma média, tendo certeza que não é o melhor que um dia eu possa fazer, mas expor apesar disso, porque é o que funciona pra minha percepção de crescimento e tá tudo bem!!!!!
Quão ok é o seu crivo pra quem tá começando/experimentando?
Nesse meio tempo
Algumas frases talvez específicas demais alugaram um triplex na minha cabeça nas últimas semanas, por motivos conscientes ou não, só sei que vez ou outra me pego lembrando delas e pensando “po… bote fé”.
“E as borboletas do que eu fui pousam demais, por entre as flores do caminho que tu vais.” Belchior em Paralelas. ~trívia: Depois da morte dele, Erasmo Carlos revelou que o cantor e amigo fez esse verso exclusivamente pra ele. Fofos. Vanusa e Belchior gravaram depois uma outra versão da música que substituía a frase por “como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o que é cruel e o que é paixão”.
“O amor é o que o amor faz.” bell hooks. Ainda não li nada de bell hooks mas desde o dia da sua morte muita gente compartilhou frases suas nas redes sociais e essa vai e volta na minha cabeça pelo menos uma vez por semana.
"Não tenho estrutura alguma pra sobreviver sem as coisas a que já sobrevivo. Ridícula?" Letrux de novo, no livro “Tudo o que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas” que ganhei de Milly e amei tanto. <3
Honestamente aliviada por ter aberto esse rascunho e terminado essa número #5. Aliviada e, por que não, um tantinho orgulhosa de mim. O objetivo é voltar a escrever semanalmente, de forma cada vez menos impostora. Até sábado que vem!
Emília
Migã, tu pulou o #4 ou eu to viajando na contagem? 😬