Olá, adultas e adultos. Na newsletter #8 percebi que indiquei os dois entretenimentos mais comuns e populares do momento, Pantanal e A mulher da casa abandonada, que se você não acompanha, com certeza já recebeu uma das dicas de pelo menos 15 amigos.
Que merda de sugestão, minha gente. Foi logo o que eu pensei quando reli, depois de já ter enviado. Em minha defesa, o texto foi escrita nas pressas, entre uma madrugada de insônia e os 20 minutos livres que tive na manhã seguinte e achei suficientes para terminar de escrever e enviar. Nem preciso dizer que não revisei.
Mas lembrei também que na primeira edição eu "avisei" que seria assim. Muito improvável que eu indique um filme do mubi ou um álbum da banda trombone de frutas.
Nos últimos meses de 2021 eu fiquei completamente viciada em Lulu Santos. Tudo começou quando eu me dei conta que sabia muitas músicas dele do começo ao fim, mesmo que nunca tenha escutado por minha iniciativa. É natural do brasileiro que cresceu assistindo novelas e programas da Globo saber pelo menos cinco músicas de Lulu Santos. Teste!!!
Devo ter me deparado com alguma das mais famosas em um mix do Spotify e, enquanto cantava uma letra que não sei quando passei a saber de cor, me peguei descobrindo uma frase que fazia tanto sentido e que também era tão bonita. E dali a pouco, outra. Repeti a música, meio envergonhada, e se virem no ônibus que tô ouvindo Lulu Santos?
Fui no perfil do cantor, escutei mais uma dezena de canções que eu também já sabia decorado pelo menos o refrão. Viciei nessas, duas ou três achei até geniais. Mesmo deslumbrada com as composições de sucesso desse artista que exala uma energia de The Voice Brasil, não senti curiosidade em ouvir as letras menos conhecidas, o Lulu Santos lado b. Já não consigo duvidar que sejam muito boas, mas aquelas 10 que já estiveram em pelo menos 3 trilhas de novela me contemplam até hoje.
O ideal do homem básico
Enquanto vemos amigos, namorados, personagens de filmes e séries exaltando a mulher que não-é-como-as-outras, é possível observar o fenômeno contrário do lado das mulheres que gostam de homens.
A procura crescente pelo *homem básico* acomete 3 em cada 4 mulheres héteros, segundo minha observação, vivência e especulação apoiada em preconceitos.
Uma vez, descrevendo o marido de uma amiga como “homem básico”, ele entendeu qualquer coisa menos um elogio. Expliquei que na verdade esse é o perfil que entendo como ideal e que, nesse caso, “básico” tá longe de ser sinônimo de mediano ou a falta de algo especial, muito pelo contrário. Mas é mesmo?
O marido da minha amiga é um cara maravilhoso, a minha humilde opinião é que ele está sem dúvida nenhuma acima da média. Então POR QUE saiu “homem básico” quando fui descrever um homem cheio de qualidades? Não sei ainda, estou pensando enquanto escrevo. Vai pensando comigo (não sobre ele, isso seria estranho).
Se relacionar com alguém que sabe ser ouvinte facilita um milhão de coisas. Namorar quem sabe o tom pra falar as coisas é o ápice. Quando falta essas coisas, é problema, confusão, fábrica de noias. Quem disse isso, mais uma vez, foram elas duas: minha empenhada observação da vida dos outros e a experiência modesta da minha própria vida.
A terceira fonte, meus preconceitos, diz que os homens que gostam de se apresentar como excêntricos, especiais, diferente-dos-outros, na esmagadora maioria das vezes, se dedicam ao impacto inicial e erram FEIO nas coisas, olhem só, básicas. Comunicação, que acabei de citar, é uma dessas que pavimenta taaantas outras coisas basilares, como confiança e respeito. Noção de responsabilidade com os cuidados da casa onde mora, com a própria saúde, com as pessoas que ama.
Daí talvez por isso, depois de um atrás do outro que promete tudo e entrega nada, sendo “nada” a ausência do mínimo, a gente passou a mirar de forma explícita naquilo que provavelmente já fez tanta falta em outro momento: o básico.
O medo da história se repetir - ou o trauma - pode ser tão grande, que alguns traços menos ~básicos podem ficar marcados negativamente. É metido a escritor ou músico? Distância, por favor. Mas o cara usava a sua afinidade com arte pra mascarar a falta de [insira aqui um aspecto essencial para um relacionamento]? Provavelmente não, gata. Mas não é você que vai apostar em cavalo que não ganhou corrida.
Então, sim, é mais fácil ir atrás dos que deixam o básico mais visível.
O homem básico NÃO É o que tem a profundidade de um pires.
O homem básico é aquele que não faz questão de parecer profundo/crítico/obcecado em relação a tudo, em todos os momentos e de preferência com plateia.
Não é o bruto que esconde emoções e foge de DR, mas também não é o que assumiu a “sensibilidade diferenciada” como personalidade (e que curiosamente também foge de DR).
Antes de assistir uma receita de pão artesanal, ele vai dar play numa Brené Brown. Troca Bukowski por Marie Kondo, Clarice Lispector pelo Papo de Segunda do GNT. Melhor, ele faz uma maratona de GNT.
A conclusão é que o quase extinto homem básico que procuramos é um homem com o senso de uma mulher que faz terapia. Talvez por isso esteja só no campo do “ideal”.
Esse é o meu homem ideal no momento. Ele é artista, não é nada básico e eu sou incoerente.
A indicação dessa edição é a playlist de Lulu no fim do primeiro texto. Texto que eu escrevi há exatos 20 dias e hoje já achei meio over isso de retomar as indicações da última newsletter, por causa do podcast.
A Mulher da Casa Abandonada já tá no final e a repercussão foi de 0 a 100 muito rápido. O tempo da internet é uma coisa maluca, mesmo. Para a minha sorte, eu senti muita preguiça de entrar nas discussões do tribunal do Twitter sobre o criador, o público, a mulher. Se eu perdi o meu tempo de sono nessas últimas semanas, foi com o meu TOC que atacou em alguns dias e hoje, quando decidi que se adiasse enviar a newsletter por mais tempo, teria que escrever um novo texto.
Até a próxima (que vai ser a #10!!! :ooo),
Emília
Eu quero ser HOMEM BÁSICO! E só me chamam se autêntico...saco...
E vou ouvir Lulu Santos. O lance da novela é pura verdade.
perdi tudo na foto de murilo benicio